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The Museum is Open

The Museum building will remain open to the public through October 17, 2025. For more information about visiting the Museum, please visit Plan Your Visit.

Christopher Browning

CHRISTOPHER BROWNING: Como um governo decide, como questão de política pública, assassinar um determinado grupo de pessoas? Como pessoas – pessoas comuns – se tornam assassinas em massa? O Holocausto não foi simplesmente um ato de sadismo cometido por alguns loucos ligados ao regime nazista. Ele foi um processo burocrático e administrativo, ele envolveu todas as facetas da sociedade e da vida alemãs. E não poderemos entender os nazistas, não poderemos entender a Segunda Guerra Mundial, e não podemos entender a história da Europa no século 20 se não conhecermos o Holocausto.

DANIEL GREENE: O historiador Christopher Browning acredita que faz parte do seu trabalho de educador levantar questões difíceis. A história, diz ele, nos permite entender a nós mesmos, conhecer o que somos capazes [de fazer] dentro de nossa condição de seres humanos. Em seu livro "Ordinary Men" ("Homens Comuns"), o professor Browning examina as escolhas feitas por alemães comuns que se tornaram assassinos em massa durante o Holocausto. Ele nos força a olhar de perto o lado humano dos assassinos nazistas.

Bem-vindo a "Vozes sobre o Anti-semitismo", uma série gratuita de podcasts do Museu Estadunidense Memorial do Holocausto. Meu nome é Daniel Greene, e sou o apresentador da série. A cada duas semanas, convidamos um participante para refletir conosco sobre as diversas maneiras como o anti-semitismo e o ódio [em geral] afetam o mundo nos dias de hoje. Com vocês, o historiador Christopher Browning.

CHRISTOPHER BROWNING: Na maior parte da história da Europa, e para a maioria dos europeus, o anti-semitismo é um aspecto muito secundário de sua visao-de-mundo. Já que o termo era [e é] muito comum, não houve sinal de advertência, nenhum alarme que soasse quando Hitler começou a maltratar os judeus. O anti-semitismo europeu existe há mais de mil anos; muitas das acusações contra os judeus que constam na literatura medieval ainda existem hoje, [mais de] mil anos depois. Assim, quando os nazistas as adotaram [as acusações medievais], eles passaram a dizer coisas que há muito se dizia e que fazia parte da [mentalidade da] sociedade européia, articulando aquelas acusações em um conjunto [de outras idéias] que, por suas implicações para as políticas desenvolvidas, foi inovador e radical [em sentido negativo].

Os nazistas sentiam-se engajados em uma empreitada histórica para reformular o mapa demográfico mundial. O racismo estava no cerne da concepção que tinham do funcionamento do mundo. Suas idéias, basicamente, eram de que a história era uma constante luta entre diferentes raças, e a de os rumos da história dependiam de quais seriam as raças vencedoras e quais as perdedoras. Esta ideia era profundamente ligada à concepção de que Hitler tinha da construção da história e do seu papel nela.

Acho que devemos evitar olhar para o Holocausto como algum tipo de desastre natural. O Holocausto não foi um tsunami. O Holocausto não foi um terremoto. O Holocausto foi um acontecimento criado pelo ser humano. As pessoas tomaram decisões e agiram. Se tratarmos o Holocausto como algum tipo de acontecimento sobrenatural, estaremos simplesmente apagando-o da história e transformando-o em um tipo de acontecimento misterioso ou místico. Acho que devemos preservar as dimensões humanas daquele fato e, para fazê-lo, precisamos olhar de perto os perpetradores, tanto os que criaram as políticas e tomaram as decisões, quanto os que as executaram, que levaram adiante a matança, dia após dia, frente a frente com suas vítimas. Precisamos tratá-los como seres humanos, sem esquecer que a [nossa] única finalidade é a de captar o horror de tudo o que aconteceu [no Holocausto]. Porque, depois que você começar a ver os perpetradores como seres humanos, você sentirá um peso desconfortável na consciência [e se perguntará]: será que eles são fundamentalmente diferentes de mim? E, naquelas circunstâncias, o que eu teria feito?